sábado, 5 de fevereiro de 2011

A cruz do passado, e a cruz do presente

A.W.Tozer

Tradução de João A. de Souza Filho

Nota do tradutor: Tozer, missionário da Aliança Cristã e Missionária, fundada por A.B. Simpson nasceu em 1897 e faleceu em 1963 aos 66 anos.

Em 1950 (eu tinha quatro anos de idade) Tozer já detectava o problema da modernidade entre os evangélicos no artigo extraído de um de seus livros, que aqui traduzo.

Silenciosamente e sem que se apercebesse, uma nova cruz apareceu nesses tempos modernos tomando conta dos círculos evangélicos.

É muito parecida com a velha cruz, mas só na aparência, porque é diferente: A semelhança é superficial, e a diferença fundamental.

Dessa nova cruz apareceu uma nova filosofia de vida cristã e a partir dessa nova filosofia surgiu uma nova técnica evangélica, um novo tipo de culto e de pregações.

Esse novo evangelismo usa a mesma linguagem que o antigo, mas seu conteúdo já não é o mesmo e suas ênfases não são iguais ao velho evangelho.

A velha cruz não estava engajada com o mundo.

Para a velha carne adâmica ela significava o fim de uma jornada.

Carregava consigo a sentença imposta pela lei do Sinai.

A nova cruz não se opõe à raça humana, ao contrário, é uma amiga e, se bem compreendida tornou-se a fonte de bem-estar, de beleza e de inocentes prazeres mundanos.

Ela permite que o Adão viva sem interferências. As motivações de sua vida continuam a mesma; o homem não muda.

Continua a viver para seu próprio prazer, com a diferença de que agora se deleita em cantar hinos e de ver filmes cristãos – os quais se tornaram substitutos das músicas do mundo e das bebidas.

A tônica de sua vida continua o prazer – um prazer num nível mais elevado e intelectualizado.

A nova cruz encoraja uma abordagem evangelística totalmente diferente. O novo evangelho não exige que a pessoa renuncie à vida de pecado para poder receber uma nova vida.

Ele não aborda os contrastes, mas as similaridades.

Faz questão de mostrar ao seu auditório que o cristianismo não faz exigências e demandas desconfortáveis, ao contrário, oferece o que o mundo dá, apenas num nível superior.

Os glamoures do mundo são substituídos pelos glamoures da nova religião que é um produto bem melhor.

A nova cruz não sacrifica o pecador, apenas o redireciona.

Ela o conduz por uma vida mais limpa e alegre e preserva sua auto-reputação.

Para o auto-determinado diz: Venha e tome uma determinação por Cristo.

Ao egoísta proclama: Venha e se alegre no Senhor.

Para o aventureiro, diz: Venha e descubra a aventura da comunhão cristã.

A mensagem cristã segue a moda em voga para ser aceitável ao público.

A filosofia por trás dessa cruz pode até ser sincera, mas a sinceridade não encobre sua falsidade.

É falsa porque é cega.

Perde de vista completamente o sentido da cruz.

A velha cruz é símbolo de morte. Está ali para dizer ao homem de forma violenta que sua vida chegou ao fim.

No império romano quando alguém passava pelas estreitas ruas carregando uma cruz, já havia se despedido de todos os amigos.

Não podia voltar atrás. Tinha de seguir até o fim.

A cruz não permitia acordos, nada modificava e nada preservava.

Ela matava o homem completamente e para seu bem.

A cruz não fazia acordos com sua vítima; ela agia de maneira cruel e dura, e quando sua tarefa terminava, o velho homem deixava de existir.

A raça adâmica está condenada a morrer.

Não há comutação ou substituição da pena nem escape.

Deus não aprova nenhum dos frutos do pecado, por mais inocente ou belo que pareçam aos olhos do ser humano.

Deus salva o homem liquidando-o completamente pra depois ressuscitá-lo a um novo estilo de vida.

A evangelização que traça paralelos amistosos entre os caminhos de Deus e do homem é falsa, anti-bíblica e cruel para as almas dos ouvintes.

A fé de Cristo não anda paralela com o mundo; ela o intercepta.

Ao nos achegarmos a Cristo não elevamos nossa velha vida a um plano maior; nós a deixamos na cruz.

O grão precisa ser enterrado e morrer, antes de ressurgir uma nova planta.

Nós os que pregamos o evangelho devemos deixar de lado a ideia de que somos agentes do bom relacionamento de Cristo com o mundo.

Não podemos alimentar a ideia de que fomos comissionados para tornar Cristo agradável aos grandes homens de negócios, à imprensa, à mídia, ao mundo dos esportes e da cultura.

Não somos diplomatas; somos profetas, e nossa mensagem não é uma aliança, um acordo, e sim um ultimato.

Deus oferece vida, mas não a improvisação da velha vida.

A vida que ele oferece é vida que nasce da morte.

É uma vida que se posiciona ao lado da cruz.

Todos os que a querem têm de passar sob a vara.

Precisam negar-se a si mesmo aceitando a justiça de Deus sobre sua vida.

O que dizer de uma pessoa condenada que encontra vida em Cristo Jesus?

Como essa teologia pode ser aplicada à sua vida?

Simples: O homem tem que se arrepender e crer.

Ele precisa deixar para trás seus pecados e depois sentir-se perdoado.

Não pode encobrir coisa alguma, defender-se e escusar-se.

O homem não pode tentar fazer acordos com Deus, tem que baixar a cabeça ante o descontentamento divino.

Deve reconhecer que está disposto a morrer.

Depois, espera e confia no Senhor ressuscitado, porque do Senhor vem a vida, o renascimento, a purificação e o poder.

A cruz que deu fim à vida terrena de Jesus põe fim ao pecador; e o poder que ressuscitou a Cristo dos mortos, agora ergue o pecador para sua nova vida com Cristo.

Àqueles que fazem objeção a esse fato ou acham que é um ponto de vista estreito e particular da verdade, é preciso dizer que Deus estabeleceu sua marca de aprovação dessa mensagem dos dias de Paulo até hoje.

Ditas ou não com essas mesmas palavras, este tem sido o conteúdo de todas as pregações que trouxeram vida e poder ao mundo ao longo dos séculos.

Os místicos, os reformadores e os avivalistas deram ênfase à cruz, e sinais, milagres e maravilhas de poder do Espírito Santo são testemunhas da aprovação de Deus.

Será que nós, os herdeiros desse legado de poder podemos contender com a verdade?

Será que podemos com nossos lápis (escritos) apagar a marca registrada ou alterar o modelo que nos foi mostrado no monte?

Que Deus nos proíba!

Preguemos sobre a velha cruz e conheceremos o velho poder.

Extraído de Man, the dwelling place of God (O homem, habitação de Deus), 1966.

Fonte: http://www.revivalschool.com

Um comentário:

  1. Muito boas palavras, há muito tempo noto estas discrepâncias no meio cristão.
    Queremos ser herdeiros das benção e das promessas feitas a Abraão, mas não queremos o legado "pesado" de viver as leis e estatutos nos quais ele viveu e nos quais foi aprovado.
    O mundo cristão estudou bastante a bíblia, não para viver por ela, mas para encontrar desculpas para não guardar o dia de descanso, instituído por Deus no jardim do Éden, como se este pudesse ser removido das tábuas de pedra que foram escritas com o próprio dedo de Deus (Ex. 31:18).
    O Sábado, sétimo dia, foi criado para ser uma benção para o homem. Instituído no Éden, antes da entrada do pecado, e confirmado no Sinai com um "Lembra-te", só podemos lembrar de algo que já existe.
    Para tentar tirar esta "obrigação" dada por Deus diz-se que a Lei foi abolida na cruz, mas sem a Lei perdemos o sentido e o rumo, pois a Lei nos diz o que é pecado, mas se a Lei foi abolida então nem da Graça necessitamos pois não devemos nada pra ninguém, muito menos pra Deus. (Rom. 4:15-16)
    Jesus foi morto exatamente porque o quebrantamento da Lei requer a morte do transgressor. Deus disse: "...no dia que dele comer certamente morrerás..."
    Se a Lei pudesse ser abolida, então Jesus teria morrido à toa.
    Por isso que o cristianismo hoje apela pro sensacionalismo das curas, milagres, excitações dos cultos emocionais, das músicas barulhentas.
    Deus continua buscando os que o adoram em Espirito e em Verdade. Estes são o Seu povo e é a estes que Jesus virá buscar. Aos outros dirá: "Não conheço a vós que praticais a iniquidade" (Mat. 7:21-25).
    Que Deus nos abençoe e nos ajude a viver os Seus propósitos.

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