As bases bíblicas da ética cristã
A palavra “ética” vem do grego ethos e se refere aos costumes ou práticas que são aprovados por uma cultura.
A ética é a ciência da moral ou dos valores e tem a ver com as normas sob as quais o indivíduo e a sociedade vivem.
Essas normas podem variar grandemente de uma cultura para outra e dependem da fonte de autoridade que lhes serve de fundamento.
A ética cristã tem elementos distintivos em relação a outros sistemas.
O teólogo Emil Brunner declarou que a ética cristã é a ciência da conduta humana que se determina pela conduta divina.
Os fundamentos da ética cristã encontram-se nas Escrituras do Antigo e do Novo Testamento, entendidas como a revelação especial de Deus aos seres humanos.
A ética é importante para a vida diária do cristão.
A cada momento precisamos tomar decisões que afetam a outros e a nós mesmos.
A ética cristã ajuda as pessoas a encarar seus valores e deveres de uma perspectiva correta, a perspectiva de Deus.
Ela mostra ao ser humano o quanto está distante dos alvos de Deus para a sua vida, mas o ajuda a progredir em direção esse ideal.
Se fosse possível declarar em uma só sentença a totalidade do dever social e moral do ser humano, poderíamos fazê-lo com as palavras de Jesus: “Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todo o teu entendimento... e amarás o teu próximo como a ti mesmo”. (Mt 22, 37 e 39)
1. A ÉTICA DO ANTIGO TESTAMENTO
1.1 O caráter ético de Deus
A religião dos judeus tem sido descrita como “monoteísmo ético”.
O Velho Testamento fala da existência de um único DEUS, o criador e Senhor de todas as coisas.
Esse Deus é pessoal e tem um caráter positivo, não negativo ou neutro.
Esse caráter se revela em seus atributos morais.
Deus é Santo (Lv 11, 45; Sl 99, 9), justo (Sl 11, 7; 145, 17), verdadeiro (Sl 119, 160; Is 45, 19), misericordioso (Sl 103, 8; Is 55, 7), fiel (Dt 7, 9; Sl 33, 4).
1.2 A natureza moral do homem
A Escritura afirma que Deus criou o ser humano à sua semelhança (Gn 1, 26-27).
Isso significa que o homem partilha, ainda que de modo limitado, do caráter moral de seu Criador.
Embora o pecado haja distorcido essa imagem divina no ser humano, não a destruiu totalmente.
Deus requer uma conduta ética das suas criaturas: “Sede santos porque eu sou santo” (Lv 19, 2; 20, 26)
1.3 A Lei de Deus
A lei expressa o desejo que Deus tem de que as suas criaturas vivam vidas de integridade.
Há três tipos de leis no Antigo Testamento: cerimoniais, civis e morais.
Todas visavam disciplinar o relacionamento das pessoas com Deus e com o seu próximo.
A lei inculca valores como a solidariedade, o altruísmo, a humildade, a veracidade, sempre visando o bem-estar do indivíduo, da família e da coletividade.
1.4 Os Dez Mandamentos
A grande síntese da moralidade bíblica está expressa nos Dez Mandamentos (Ex 20, 1-17; Dt 5, 6-21).
As chamadas “duas tábuas da lei” mostram os deveres das pessoas para com Deus e para com o seu próximo.
O Reformador João Calvino falava nos três usos da Lei: judicial, civil e santificador.
Todas as confissões de fé reformadas dão grande destaque à exposição dos Dez Mandamentos.
1.5 A contribuição dos profetas
Alguns dos preceitos éticos mais nobres do Antigo Testamento são encontrados nos livros dos Profetas, especialmente Isaías, Oséias, Amós e Miquéias.
Sua ênfase está não só na ética individual, mas social.
Eles mostram a incoerência de cultuar a Deus e oferecer-lhe sacrifícios, sem todavia ter um relacionamento de integridade com o semelhante.
Ver Isaías 1, 10-17; 5, 7 e 20; 10 1-2; 33, 15; Oséias 4, 1-2; 6, 6; 10, 12; Amós 5, 12-15, 21-24; Miquéias 6, 6-8.
2. A ÉTICA DO NOVO TESTAMENTO
1. A ética do Novo Testamento não contrasta com a do Antigo, mas nele se fundamenta.
Jesus e os Apóstolos desenvolvem e aprofundam princípios e temas que já estavam presentes nas Escrituras Hebraicas, dando também algumas ênfases novas.
2. A ética de Jesus: a ética de Jesus está contida nos seus ensinos e é ilustrada pela sua vida.
O tema central da mensagem de Jesus é o conceito do “reino de Deus”.
Esse reino expressa uma nova realidade em que a vontade de Deus é reconhecida e aceita em todas as áreas.
Jesus não apenas ensinou os valores do reino, mas os exemplificou com a vida e o seu exemplo.
3. O Sermão da Montanha: uma das melhores sínteses da ética de Jesus está contida no Sermão da Montanha (Mateus Caps. 5 a 7).
Os seus discípulos (os Filhos do Reino) devem caracterizar-se pela humildade, mansidão, misericórdia, integridade, busca da justiça e da paz, pelo perdão, pela veracidade, pela generosidade e acima de tudo pelo amor.
A moralidade deve ser tanto externa como interna (sentimentos, intenções): Mt 5, 28.
A fonte do mal está no coração: Mc 7, 21-23.
4. A vontade de Deus: Jesus acentua que a vontade ou o propósito de Deus é o valor supremo.
Vemos isso, por exemplo, em Mt 19, 3-6.
O maior pecado do ser humano é o amor próprio, o egocentrismo (Lc 12, 13-21; 17, 33).
Daí a ênfase nos dois grandes mandamentos que sintetizam toda a lei: Mt 22, 37-40.
Outro princípio importante é a famosa “regra de ouro”: Mt 7, 12.
5. A ética de Paulo: Paulo baseia toda a sua ética na realidade da redenção em Cristo.
Sua expressão característica é “em Cristo” (II Co 5, 17; Gl 2, 20; 3, 28; Fp 4, 1).
Somente por estar em Cristo e viver em Cristo, profundamente unido a Ele pela fé, o cristão pode agora viver uma nova vida, dinamizado pelo Espírito de Cristo.
Todavia, o cristão não alcançou ainda a plenitude, que virá com a consumação de todas as coisas.
Ele vive entre dois tempos: o “já” e o “ainda não”.
6. Tipicamente em suas cartas, depois de expor a obra redentora de Deus por meio de Cristo, Paulo apresenta uma série de implicações dessa redenção para a vida diária do crente em todos os aspectos (Rm 12, 1-2; Ef 4, 1)
7. Entre os motivos que devem impulsionar as pessoas em sua conduta está a imitação de Cristo (Rm 15, 5; Gl 2, 20; Ef 5, 1-2; Fp 2, 5).
Outro motivo fundamental é o amor (Rm 12, 9-10; I Co 13, 1-13; 16, 14; Gl 5, 6).
O viver ético é sempre o fruto do Espírito (Gl 5, 22-23).
8. Na sua argumentação ética, Paulo dá ênfase ao bem-estar da comunidade, o corpo de Cristo (Rm 12, 5; I Co 10, 17; 12, 13 e 27; Ef 4, 25; Gl 3, 28).
Ao mesmo tempo, ele valoriza o indivíduo, o irmão por quem Cristo morreu (Rm 14, 15; I Co 8, 11; I Ts 4, 6; Fm 16)
9. Acima de tudo, o crente deve viver para Deus, de modo digno dele, para o seu inteiro agrado: Rm 14, 8; II Co 5, 15; Fp 1, 27; Cl 1, 10; I Ts 2, 12; Tt 2, 12.
Por:Alderi Souza de Matos
Porque a nossa glória é esta: o testemunho da nossa consciência, de que com simplicidade e sinceridade de Deus, não com sabedoria carnal, mas na graça de Deus, temos vivido no mundo, e de modo particular convosco.
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